Percentual (aproximado) de submissões de temas técnicos na conferência Agile Brazil. Fonte: contagem manual disponível em https://submissoes.agilebrazil.com/

Estamos descobrindo maneiras melhores de desenvolver software, fazendo-o nós mesmos e ajudando outros a fazerem o mesmo. Será mesmo?

Agilidade e temas técnicos, ainda combinam? Um resumo do que vi entre 2017 e 2019

Wagner Fusca
5 min readFeb 2, 2020

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Caso você não consiga ler todo o artigo, saiba que a agilidade técnica não morreu conforme gráfico que inicia este artigo. Agilidade técnica não morreu, graças às pessoas que de fato entenderam que ainda estamos aprendendo a fazer software melhor e ensinando outros a fazerem o mesmo e que a contínua atenção e a excelência técnica aumenta a agilidade.

A seguir, conto um pouco de como este assunto mexe comigo, fique a vontade em seguir ou não com a leitura.

Agilidade e temas técnicas, ainda combinam?

2017 foi um ano marcante em minha carreira profissional pois adotei a postura de não mais aceitar um ágil “mais ou menos” e misturado com o modelo tradicional de software. Adotei como propósito de vida os valores e princípios ágeis e encarei uma carreira focada em agilidade, com um viés mais na parte técnica. Poderia dizer que neste ano, parei se fazer ágil e passei a ser ágil. E pra ser ágil você precisa voltar a essência de tudo.

Por isto, fiquei algumas semanas ruminando o manifesto ágil. E três pontos me chamaram a atenção :

  • Estamos aprendendo a fazer software
  • Estamos ensinando outros a fazer
  • A contínua atenção à excelência técnica e bom design aumenta a agilidade

Ao ler estes pontos percebo o quanto me identifico com eles, afinal desde 2005 venho trabalhando com software (sujando as mãos com código) e conseguindo pagar meus boletos com isto.

E o que eu fiz a partir desta análise no manifesto?

Para aprimorar o ponto de contínua atenção à excelência técnica, mergulhei em alguns estudos, como design pattern, TDD, devops e as práticas de XP (eXtreme Programming). A medida que eu avançava nas práticas de XP eu conheci seus valores, que norteiam muito do que eu faço nos dias atuais.

Fonte: https://www.toolsqa.com/agile/extreme-programming/. Para saber mais acesse http://www.extremeprogramming.org/values.html

Para os pontos de estar aprendendo a fazer software e ensinando outros a fazerem software melhor, eu descobri a importância de ser mais humilde e não tão escravo de uma linguagem de programação. Descobri que o importante é saber fazer um código limpo, que seja para outros seres humanos e com testes unitários. Aprendi isto participando de eventos como TDC (The Developers Conference), Caipira Ágil e Agile Brazil. Nestes eventos conheci muitas pessoas que me ajudaram a olhar software por uma outra ótica. Mas ao participar destes eventos, algo me incomodava. Eu não encontrava muito do que o manifesto pregava, sobre ser um manifesto ágil para o desenvolvimento de software. Onde será que nos perdemos?

Uma bandeira

Olhando este cenário, entendi que precisávamos (ou ainda precisamos) voltas as essências. Então, este assuntos passou a ser a minha bandeira de 2017 até agora (início de 2020). De lá pra cá ouvi muita coisa. Comentários do tipo:

  • “agilidade não tem nada a ver com software”
  • “agilidade e devops são coisas separadas”
  • “evento de agilidade tem que falar das tendências futuras"
  • “importante na agilidade é gestão e processos”
  • “Agilidade é scrum e Kanban”
  • “Agora é agilidade para RH”
  • “A culpa é dos desenvolvedores que não vem para os eventos de agilidade”
  • entre outras que não lembro…

Mas também conheci pessoas que pensavam como eu e queriam evidenciar a importância de retornarmos a essência ágil. De 2017 para os dias atuais muita coisa rolou e agora temos vários fatos concretizados:

  • Voltamos a falar de assuntos técnicos em conferências ágeis, conforme consta no gráfico que inicia este artigo. Destaque para o Agile Brazil, Scrum Gathering Rio e Agile Trends (este último, ainda um pouco mais tímido).
  • Temos uma trilha de eXtreme Programming nos The Developers Conference (TDC) de Florianópolis, Porto Alegre e São Paulo.
  • Tivemos uma edição presencial e outra remota da XP Conf BR em 2018
  • Tivemos vários palestrantes brasileiros no principal evento de eXtreme Programming no mundo, a XP Conf, em 2017, 2018 e 2019 (atualização: em conversa com meu amigo Juliano Ribeiro, ele me passou uma realidade que na XP Conf dos anos anteriores também tivemos brasileiros.)
  • Temos um curso de excelência técnica, ministrado pelo Klaus Wuestefeld num dos principais centros de treinamento de agilidade do Brasil (Software Zen: Alisson Vale)
  • Temos uma trilha dedicada a Design de Código nos The Developers Conference (TDC) de Florianópolis, Porto Alegre e São Paulo.

Fico feliz em ver que uma pequena faísca que foi levantada a partir dos dados de submissões do Agile Brazil (gráfico inicial deste artigo, medições dos anos 2016 e 2017), geraram mudanças na forma como se fala de agilidade.

O que eu aprendi

Nesta jornada aprendi algumas coisas:

  • A grande maioria das pessoas que trabalham com agilidade (scrum masters, agile coach, agile masters, agilistas, etc), não se interessam e nem fazem esforço para entender agilidade técnica.
  • Até 2021, a grande maioria das empresas que começaram suas transformações ágeis vão precisar de foco na agilidade técnica, senão o ágil nelas irá estagnar.
  • Dojo é uma ferramenta pouco utilizada por facilitadores de agilidade. A maioria tem receio de promover.
  • Em conferências, ter entre 15% a 20% da grade com agilidade técnica é o ideal. Ignorar demasiadamente é ruim e priorizar demasiadamente também é ruim.
  • Pessoas de agilidade que falam a linguagem técnica tem maior receptividade dos times.
  • Conferências de Agilidade (na minha visão) não devem falar de linguagem de programação, mas das boas práticas e como aplicar ferramentas para entrega de valor
  • Abordagens recentes de agilidade, como Modern Agile e Heart of Agile, falam do delivery. Isto é assunto técnico. Ou seja, você precisa ficar atento a isto.

Se você concorda, deixe seu aplauso e comentário. Se discorda, gostaria muito de ouvir sua opinião e juntos crescermos na agilidade .

“ The whole point of good design and clean code is to make you go faster” Martin Fowler (https://martinfowler.com/bliki/TechnicalDebtQuadrant.html)

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Wagner Fusca

Agile e desenvolvimento de software podem caminhar juntos!